"1- Mais do que partilhar bens, o Natal reclama a partilha de afectos.
O ser humano é um ser social e o jogo de afectos faz parte da realização de cada um. Por mais coisas que se tenham, ninguém é feliz se não amar e se não se deixar amar. Aliás, o Natal não tem outros desafios a não ser o do amor partilhado com Deus, na pessoa de Jesus e com os homens no desejo de fazer feliz toda a gente. Por isso, este é o tempo de olhar para os mais pobres e os que mais sofrem, mas é tempo também para quantos estão ao nosso lado em casa, no trabalho, na vida social.
Será interessante perguntar como se consegue partilhar os afectos. É simples a resposta, bastará descobrir que se podem fazer felizes todos aqueles que se cruzam no nosso caminho. Partilhar afectos é...
- Reparar no outro e dar-lhe atenção: na cidade as pessoas vivem como desconhecidos, cruzam-se nas ruas, entram nos prédios, sobem nos elevadores e nem sequer olham umas para as outras. É preciso reparar que o outro existe e precisa da "minha" atenção.
- Escutar o que o outro tem para dizer: uma coisa importante ou uma história que já ouvimos muitas vezes revela sempre que o outro tem confiança "em mim".
- Perdoar o outro: as ofensas magoam as relações, mas a capacidade de perdoar reconstrói a vida vencendo angústias, solidões e mal querenças.
- Cuidar do outro: qualquer que seja o seu problema, todas as pessoas precisam de ser ajudadas. pelo que o jogo dos afectos permite compreender qual é o mistério do outro que está próximo e que precisa "de mim".
- Sentar-se à mesa com o outro: partilhando com ele o carinho e a ternura, as preocupações e os sonhos, o bem e a adversidade, construindo uma relação pacificadora.
- Rezar com o outro: a presença de Deus na relação que se tem com alguém dá ao sentido da vida uma alegria intensa porque Deus vem sempre ao encontro daqueles que se amam.
2- Uma das formas mais belas da partilha de afectos está no voluntariado.
No domingo passado juntaram-se 400 voluntários na Paróquia e durante 3 h contaram uns aos outros as maravilhas de amor que é servir gratuitamente os mais idosos, os mais pobres ou os que mais sofrem. Os voluntários partilham a vida num extraordinário dom de amor. Também a responsável do voluntariado foi convidada a ir à Ass. da República falar da nossa experiência de amor. Emocionou os deputados, interpelou os políticos, congratulou-se com outras experiências, falou da acção voluntária realizada na comunidade paroquial Campo Grande:
Muitos são os projectos nos quais os voluntários são imprescindíveis e que melhoram a qualidade de vida material das pessoas: rouperia, extensão do banco alimentar, distribuição de almoços, (...) explicações ou apoio escolar a jovens em situações de risco... mas gostaria de focar a minha atenção nos projectos que melhoram a qualidade de vida não material. O isolamento a que muitas pessoas estão sujeitas rouba-lhes satisfação, felicidade, integração e pertença, até quase lhes rouba dignidade. Criar laços e redes de afectos e relações que consigam devolver as pessoas a um lugar social, de pertença a um grupo e ajudá-las a reencontrar um sentido válido para a vida é fundamental, para que na nossa sociedade não andemos a acrescentar anos de vida, ao mesmo tempo que oferecemos um presente "envenenado" de indignidade e definhamento afectivo e espiritual.
Este tecer relacional e espiritual, que tem como objectivo tornar a pessoa isolada num agente da sua própria existência, não é fácil, não é claro, não é igual para todos, não tem receitas... É um trabalho de sensibiliadde e atenção, de capacidade de escuta e perspicácia que exige grandes qualidades empáticas aos voluntários. E é um trabalho que nunca se pode dizer que está feito.
Não poderia terminar sem manifestar a convicção de que um voluntariado bem gerido e bem organizado é essencial para a verdadeira coesão e felicidade sociais. Porque dar é gerador de felicidade e bem-estar pessoal e, como diz a embaixadora do ano europeu do voluntariado - Fernanda Freitas - é gerador de PIF (Produto Interno de Felicidade) do qual o nosso país está carente.
3 - Reinventar o amor pela partilha de afectos é o desafio que nos é feito neste Natal.
Não é preciso fazer muitas coisas novas, é preciso dar uma dimensão nova a todas as coisas que fazemos. Recriar as tradições pedirá um toque de amor em cada palavra, em cada gesto, em cada momento.
- a consoada, com o bacalhau de sempre, é uma festa de reconcilição e de amor em que ninguém pode faltar
- o madeiro a arder à porta da igreja é o sinal do amor que a todos aquece, vencendo os frios que as muitas crises provocam. À volta do fogo todos somos iguais.
- A Missa do galo é a melhor festa que pode celebrar-se no Natal. É sinal de unidade, vínculo de amor, banquete de alegria. Nesta Eucaristia todos podem estar presentes. Mesmo as crianças que adormecem ao colo dos avós, ou os menso crentes que acompanham a família nesta noite do ano.
- Os "10 milhões de estrelas"
- Os Reis Magos
- A Celebração da Paz: no espírito de Assis todos os homens de boa vontade se encontram para criar uma relação nova de reconciliação e de paz. Se não se pode colaborar na construção da paz na ordem mundial, todos podem construir a paz na suas casas, no seu mundo de trabalho e convivência.
Recriar o Natal valorizando os afectos é o melhor apelo que se pode fazer... O jogo dos afectos não tem preço e tudo fica mais acessível.
4 - Na proximidade do Natal convida-se cada pessoa a descobrir como pode ter um Natal diferente, um natal de amor, de solidariedade e de alegria."
Pe. Vítor Feytor Pinto (Prior)
11 de Dezembro de 2011
FELIZ NATAL PARA TODOS!..